Exclusivo/IPC Maps: classe D/E gastará mais no varejo não essencial que classe A em 2022
Por Daniela Amorim
Rio, 28/10/2022 - Os brasileiros mais pobres, das classes D e E, movimentarão neste ano um volume maior de recursos do que os mais ricos na aquisição de bens no varejo não essencial. No entanto, o consumo permanecerá em patamar inferior ao de 2019, no pré-pandemia de covid-19, segundo dados do IPC Maps, Índice de Potencial de Consumo publicado anualmente pela consultoria IPC Marketing Editora e obtidos com exclusividade pelo Broadcast.
As famílias de classes D e E devem gastar R$ 51,364 bilhões em 2022 no varejo de bens não essenciais, o equivalente a um aumento nominal de 10,1% em relação a 2021. Já a faixa familiar mais rica, a classe A, deve consumir R$ 36,369 bilhões, alta nominal de 26,4% em um ano.
As classes D/E somam 28,8% do total de lares brasileiros, ao passo que as famílias de classe A se concentram em uma fatia de apenas 2,5% dos domicílios do País. O levantamento considera como classe A as famílias que recebiam este ano uma renda média de pelo menos R$ 22.749,24 mensais, enquanto o grupo de classes D e E sobreviviam com até R$ 862,41 mensais. As estimativas do IPC Maps já incluem a injeção de recursos extras às famílias mais vulneráveis através de programas de transferência de renda do governo.
Ao todo, o varejo não essencial brasileiro deve movimentar cerca de R$ 371,8 bilhões em 2022, 10,6% a mais que no ano passado, em termos nominais. O resultado considera a aquisição pelas famílias de bens nos segmentos de mobiliário e artigos do lar (R$ 79,075 bilhões); eletrodomésticos (R$ 77,675 bilhões); vestuário (R$ 127,098 bilhões); calçados (R$ 51,260 bilhões); joias, bijuterias e armarinhos (R$ 8,8894 bilhões); e artigos de limpeza (R$ 27,856 bilhões). O levantamento exclui as vendas de atividades essenciais, focadas na comercialização de bens não duráveis, como alimentos e medicamentos.
Apesar do aumento previsto no consumo não essencial na passagem de 2021 para 2022, o total despendido permanecerá aquém do pré-pandemia, mesmo em termos nominais, ou seja, sem descontar a inflação acumulada no período. Em 2019, antes da covid, o consumo no varejo não essencial que integra o universo da pesquisa era de R$ 424,216 bilhões.
Segundo Marcos Pazzini, sócio da IPC Marketing Editora e responsável pela pesquisa de potencial de consumo, os dados mostram uma mudança no padrão de consumo das famílias durante a pandemia.
"A queda de 2019 para 2020 foi muito forte. Existe realmente uma recuperação de 2020 para 2021, e de 2021 para 2022, mas não ainda o suficiente para voltar aos patamares que se verificaram em 2019", disse Pazzini.
Considerando todas as faixas de renda, a despesa das famílias brasileiras no varejo não essencial em 2022 ainda será 12,3% menor que a de 2019, em termos nominais. A queda é menor entre as famílias mais pobres, que devem gastar 4,4% menos em 2022 em comparação com 2019, do que entre os mais ricos, cujo consumo deve ser 17,4% menor no mesmo período nesse segmento do comércio. O executivo lembra que houve perda de empregos e queda na renda do trabalho durante a crise sanitária. Quando a renda diminui, as famílias das classes D e E são as que mais sofrem, sendo obrigadas a enxugar o consumo.
"Você tem oferta de emprego, mas os valores (salários) não são compatíveis com valores anteriores, então você tem uma modificação do padrão de consumo da população. Ou seja, ele vai dar preferência obviamente para pagar as despesas que ele tem das necessidades básicas: pagar o aluguel da residência dele, comprar os alimentos para sobreviver durante o mês. Com isso acaba sobrando muito menos dinheiro para o que é considerado supérfluo ou que não é muito de primeira necessidade. Daí todas essas categorias que estamos analisando do varejo acabam ficando mais comprometidas. Porque se o consumidor não tem condição de arcar nem com a compra nem com o pagamento de uma prestação caso compre a prazo, ele vai deixar de comprar, e é isso que tem impactado essas mudanças ano a ano", completou Pazzini.
Já entre as famílias de renda mais alta há uma tendência ainda a direcionar os recursos extras para a poupança. "Nesses momentos de crise, quem tem dinheiro faz dinheiro, é a oportunidade", justificou Pazzini.
Ele explica que o orçamento das famílias de renda mais baixa é mais engessado pelos pagamentos essenciais, enquanto que as famílias de renda mais elevada destinam parte de seu orçamento também ao consumo de serviços, cuja demanda andava reprimida pela crise sanitária.
Dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostram que o consumo das famílias já superou o patamar pré-pandemia, mas puxado apenas pela aquisição de bens não duráveis, categoria que inclui itens essenciais como alimentos e medicamentos, e por serviços, que tiveram a demanda reprimida pela necessidade de isolamento social imposta pela pandemia.
O consumo das famílias encerrou o mês de agosto deste ano, na série que desconta efeitos sazonais, em patamar 1,4% superior ao de fevereiro de 2020, antes do agravamento da crise sanitária no Brasil, de acordo com os cálculos do Monitor do PIB - FGV. O consumo de serviços está em nível 4,7% maior que no pré-covid, e o de bens não duráveis é 3,1% superior. Por outro lado, o consumo de bens semiduráveis ainda está 9,6% aquém do patamar pré-pandemia, e o de bens duráveis, 9,5% inferior.
"A taxa de juros está muito elevada, e isso aparece claramente no consumo de bens duráveis, e tem também a inflação, que está pesando no consumo de semiduráveis e pode chegar ao de bens não duráveis também", justificou Claudio Considera, coordenador de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV). "A deflação recente está muito concentrada na gasolina, não dá nem para dizer que é deflação", opinou.
A FGV informou hoje que o Índice de Confiança do Comércio (Icom) caiu 3,8 pontos na passagem de setembro para outubro, para 98,0 pontos, devido a uma piora tanto na percepção sobre o momento presente quanto nas expectativas para os próximos meses. O destaque foi a deterioração da percepção dos empresários no volume de demanda atual, sugerindo desaceleração no ritmo de vendas do setor, apontou o economista responsável pelo levantamento, Rodolpho Tobler.
Contato: daniela.amorim@estadao.comP
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